terça-feira, 30 de junho de 2009

Nouveau de Pântano

Carolina Morais

Águas turvas

Banham os frágeis ossos

Dourados

A doce carne atravessam

Esquece-me Deus

Nouveau de pântano


Entre a relva

Descansa a derme

Que sangra a saudade

Ao prazer da dor

Que se esvai

Em vão


Arte insone

Cegueira temporária

Finzinho de tudo

Horizonte curvilíneo

Tímida morbidez

Do presente


Cansaço

Dos adolescentes

Das memórias fragmentadas

Jaz atividade interminável

Do ser em mim


Cidade envelhecida

Tarde que não passa

Chinelos gastos

Esquecidos pelos cantos

Do asfalto úmido

Trazem a verdade

Inútil

Do ser

Em mim.


sexta-feira, 19 de junho de 2009

Delírios



Carol Morais


No limite encontro-me

Entre o desejo e o delírio

Já não durmo

Já não me foco no ser

Só há sentir

Desejo desmedido

Ânsia de corpo

Calor que não passa

O corpo que transfere alma

Já não sou o Ser

Insone

Delírio da carne

Branda em volúpia

Molha-me a aura

De Ser de outrem

Só sinto o que há

Aliste-se em mim

A noite refaz pensamento

Por momentos passados que virão

Por alvas passas de prazer

Por mornos lençóis limpos

Nunca usados

E intocáveis por quem há, um dia,

De sentir decadente dia

Morrendo pela boca da noite

Entrego-me ao sentir

Transbordo de prazer

Apenas prazer

Veneno correndo em gotas minhas

Já não sou o Ser

Insone em mim

E no vazio da madrugada

Vem teu breu banhar-me o corpo

Arranca-me a fina seda

Carrega-me por completo

Para a semente de ti

Não há pecado

Nem quimera de desalento

A solidão busca no Ser

Da mente profana

Imagem de vento

Daquele desejo

E sentir dentro de mim

Profundamente

Insonemente

Por um instante

Delírios

E você.

domingo, 14 de junho de 2009

Memórias Sentimentais de João Miramar

Postarei aqui, uma crítica desta pseudo-escritora que vos fala, sobre uma das maiores obras de nossa literatura.Espero que gostem!

O projeto modernista brasileiro do primeiro momento encontrava-se imerso em uma sociedade, mais especificamente de uma São Paulo muito movimentada, de grandes prédios, de muita agitação. O escritor Oswald de Andrade, ao escrever Memórias Sentimentais de João Miramar inova a literatura, pois, através de uma nova linguagem, desautomatiza o leitor, faz com que sua literatura cause o estranhamento e leve o leitor a pensar mais do que somente receber informações que se encontram escritas no texto. O autor leva o leitor a pensar mais, pois este agora deve "decifrar" a linguagem do livro que é quase telegráfica, enigmática. Oswald de Andrade utiliza-se de termos principais, sem ter a preocupação em descrevê-los. Deixa, então, essa tarefa para o leitor. Cabe ao leitor a criação de imagens sobre os acontecimentos com a personagem principal.

Os capítulos são curtos, mas todos apresentam uma "ação pincipal", sendo esta um acontecimento da vida da personagem que não deixa margens à ambiguidades quanto sua interpretação. O leque de possibilidades interpretativas ocorre, porém, quanto à descrição do momento, ou melhor, dos pormenores que constituem as memórias da personagem. Esses pormenores são colocados na obra de maneira enigmática, daí a possibilidade de várias interpretações, de, dependenderão da visão e da experiência de mundo do leitor.

Obra inovadora em muitos aspectos, Memórias Sentimentais de João Miramar se destaca também por apresentar uma nova linguagem e uma nova língua. A mistura de idiomas, os neologismos, todos são elementos de vanguarda que caracterizam a obra como Moderna. Oswald de Andrade utiliza-se de diversos recursos literários como sinestesias, aliterações, hipérbatos etc.

Constrói toda uma estrutura de linguagem totalmente aversa à norma culta padrão da Língua portuguesa. Seja talvez por isso que se encontre tanta dificuldade na leitura e entendimento da obra, que, em si mesma, não passa de ordinárias memórias fragmentárias de uma personagem, que conta sobre sua vida fútil, burguesa, sobre suas viagens, casamento etc. Observamos também que a obra é uma crítica à burguesia e, sobretudo, à literatura burguesa, sempre provida de linguagem erudita e estilo impecável dentro do cânone literário.

A obra revolucionou o cenário literário brasileiro, onde, pela primeira vez, o Brasil passa a ser descrito pela figura do brasileiro.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Oratório




Carolina Morais

Banha a alma

Com benta água

Turva o pecado

Entre os mofos

Da madeira

Sacristia infundada

A cruz elevada ao fim

Traças que hão de comê-la

No eterno pesar de duras penas

Negras

Raio discreto

Surge do vitral incompleto

Peças do passado

Condene a batina

Enfim

Luz sombria

Guarda ave-marias

Robustas e opacas

No gesso que um dia

Rachará levemente

No

Eterno

De

ti

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Arbustos


Carolina Morais



Fica ali
A doçura branda
Da moça que corre
No asfalto frio

Percorre
O caminho úmido
O vestido verde-oliva
O traje já gasto
Pelo inimigo tempo


Perfume
Universal
Entre arbustos
Poda o caminho inseguro
Na meia-luz de sua lua nova


Soltas ao vento
As ondas dos cachos
Macios
Enovelados no infinito
Tocam
O
Céu.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

...

Vento Noturno


Carol Morais

Abre a porta

Deixe que eu entre como a luz da lua

A noite é verve

Visto-me de céu

A palavra é dita repetidas vezes

De formas diferentes

Ouço-te

Fraciono tempo

Recorto as partes que senti jogadas no chão

Da sala

Entre a luz da lua

Que me faz sentir

Imersa em pensamentos doces

E inúteis

É como o ar frio e gélido

...E fatal

Daquela que teme o afável

E ama a noite...

É como o ar frio e gélido

...E fatal

Da morte.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Alento de quimera

Carolina Morais






Quiuí maduro
Suco amargo
Na boca do menino
Que chora
Já moço

-Mãe, quero ter
Colo teu.
Esquece! alent´ele
Sou forte
Sobreviverei

Fuga inútil
O berço quebrado
Madeira-de-lei
Brasil afortunado
E por tudo ele
Quer
Brado.

Desilusão do pequeno
Um dia pensou
Ser grande
Ser alguém
Sobra para ele
Sobriedade, talvez

-Não (,) desisto
Fortuito desejo
Vitória distante
Quimera de militante
Perdida no vazio
Da luta dos que um dia
Amaram
por simplesmente
Amar



quarta-feira, 3 de junho de 2009

Para Você

Carolina Morais

Encontrei em você
Algo que não encontrava
em nada

Ao meu redor via
em tudo
um vazio sem tamanho
desmedido

Não foi falta de algo
Não foi carência de humano
Não foi problema de Ser

Foi um sem-você
Foi um sem-motivo
Foi uma tristeza

E um dia a gente saiu
Se viu
Conversou
Da conversa veio
aproximação
e dela
um beijo
doce
com gosto de você

E no dia seguinte
Houve um rever
Mais que isso
Um reviver
de você e de mim

Foi beijo sentido
pelo coração
Foi abraço de abraços
de braço seu
e meu

Seu perfume ficou
A vontade ficou
O beijo ficou
Sua face ficou
em mim

Um pedido apaixonado
Uma situação formalizada
Nomeamos apenas
o que já sentíamos
por dois beijos
por troca de olhares
pelo niilismo feliz de uma sexta primeira

E a chuva
chovendo em mim
Chorava gotas de céu
E estrelinhas sorriam
no breu de fim
piscando
para mim e você

O amor entrou
instalou
acomodou
Tomou conta de tudo que era meu
E eu
Enfim
Por fim
Descobri o sentido
do que é o amor