quinta-feira, 29 de abril de 2010

Rio da Lua

Rio da lua
guia-me ao infinito do lar de alguém
Desconheço o que a vida oferece
Vaga vagarosamente no vão das palavras

...doces...

Candura estigmatizada por poetas
desconhecidos
Baile de saudades
vãs
Passado que reside no interior
de minha tristeza

...amarga...

Descompassa universo de sentenças
Frases soltas e completas
Carentes de sentidos
Carentes de poetas
Carentes de leitores
Crentes....
e carentes...

Passos na lua, rumo ao infinito escuro e circular.

Carolina Morais


Enquanto eu escrevia o poema, escutava a belíssima canção Moon River,  escrita por Johnny Mercer e Henry Mancini, em 1961. A foi interpretada no filme Breakfast at Tiffany's (sim, o meu favorito!) por Audrey Hepburn(sim, a minha favorita!), a estrela do filme, enquanto a própria música ganhou o prêmio Academy Award for Best Song daquele ano por Mercer e Mancini

Acho filme belíssimo, e essa música também. A letra fala sobre ver o mundo e viver a vida intensamente, atravessando o "rio da lua", mexendo com nossa imaginação, com nossos sonhos e aspirações mais profundas. A letra é simplesmente linda, pura e leve. A melodia é ainda mais leve. A versão que posto aqui não é a original do filme, mas uma interpretação por Katie Melua, com sua  doce e agradabilíssima voz. Espero que gostem!










segunda-feira, 26 de abril de 2010

Abandono

Olhos semicerrados
Desvendam mistérios dentro de ti

Inútil dar-te a mão, o dedo fino.
Vamos ver estrelas e luas se partindo no céu.

Teus braços curtos enlaçam minhas mãos calejadas.
E minha boca quer dizer que chegou ao fim.

Bebo, esqueço, acordo e lembro
Não quero mais saber de afago de tronco carente.

Corto o barbante que te une a mim
És, agora, apenas um
que foi alguém algum dia nascido de mim.
 Carolina Desmondier

                 [Maternidade, Pablo Picasso]
 

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Somnu

Estou muito com sono
Mas não acordei (ainda).
ZzZzumbe em mim, poesia
Pequenina me nina:
hum hum hum

Boa noite e Bom dia!
... Poesia? (!)

Carolina Morais
 [Andrew Wyeth: The Helga Pictures Paintings, Art Pictures]


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Doses Matutinas

Sentada com dois gatos preguiçosos
Observo o nada se dissolvendo
em pequeninas doses absurdas de felicidade.
 Carolina Desmondier 













[imagem do google]

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Primárias

 












[Landscape with Butterflies, Salvador Dali]


Asterisco avermelhado
Zumbe triste como aquarela ensanguentada
Ultimato de recurso da tristeza dos amantes
Latejando a saudade constante que seca a alma.

        
Adormece longe da cidade
Maremoto insano de sentimentos
Atormenta a alma suculenta
Ri, sem doer teu ventre descontente
E se doer, que doa no teu ser
Lei divina que brota
Ontem e sempre.
 

Vime envelhecido
Encardido no teu seio farto
Reconstruindo caminhos outrora traçados
Memorizo novos ares coloridos
Encontro saída descontente
Leio velhas manchetes. Artigos
Hipócritas sujam meus
Olhos de tinta encandescente.


Virtude de um pouco de tudo no mundo,
Encanto sem veemente beleza
Rascunho de quadros imaginários
Depois de provar tanta sutileza
Encontro o céu cinzento de teus olhos no meio de tudo imundo.


Carolina Morais


















[Salvador Dali – A Caravela]

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Absolvição

E o pecado não mais sorri para mim
Encontro-me ali

e os olhos não choram mais
Agonizo
Respiro
Piro
Agora
É o fogo
Estou absolvida
Não por mim
Não de meus pecados
Pesados
(?) (?) (?)
Não, ainda não.
(Ainda)
                           ...Amém...

Carolina Morais






























Titian 1487/90 – 1576
Penitent Mary Magdalene (1565) 
oil on canvas (118 × 97 cm) — ca. 1565 Hermitage, St. Petersburg

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sob Tua Estrela

Sob o brilho da última estrela viva
Quando achei que minhas tentativas
Todas em vão foram,
Ela, com seu olhar azul
Sorriu para mim
Ecoando, enfim,
Felicidade no infinito!

Carolina Morais



















[ Pierrot  - Pablo Picasso, 1918 ]

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Verdade

[Macanudo, Z-25 – o robô sensível Ricardo Liniers]
Resolvi encarar
experimentar
tentar
Expus meu peito, meus pensamentos
Cantei o meu pobre pesar

Pensava viver
o que sabia de teoria
Quando vi que era real
Assustei-me e quis parar


Estou trancado em meus sonhos
Não sei mais o que é verdade.
Não sei mais o que é viver
             Não sei
                Não

Estou confuso, amor...Confuso (e assustado).


Carolina Morais

domingo, 11 de abril de 2010

Recomeço

Raspando capa fina de sementes
O agora vira o eterno bem distante
Comigo? -Sonhos!
De tarde arranco verde caminhar
Asas pontiagudas
Anunciam: Recomeço!

Carolina Morais


[Cypresses, Vincent van Gogh, 1889]

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Variação de Aurora [Bela Adormecida]

Quem me conhece sabe que ando meio triste já que não estou podendo fazer ballet por enquanto.
Resolvi postar a variação feminina que mais gosto. Essa variação é da Bela Adormecida. Linda. Poesia na pontinha dos pés.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Buraco

E com sua colher de prata
Sozinho
Ousa cavar fundo
E cava
E cava
fundo
E no fundo
Encontra, enfim, 
escuridão.

 [imagem:http://salsichastes.files.wordpress.com/2009/02/cavando.jpg]

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Visitação

Sentada sozinha em uma sala qualquer
Como companheira tenho a solidão
Um sentimento de paz invade meu ser
Ponho-me a ler Drummond, poeta-inspiração

Através das janelas de vidro
Vejo pessoas, barulho, confusão
Debaixo de árvores velhas
estudantes conversam e namoram no chão

E eu, sozinha
Perco-me entre Toadas do amor,
Infância, Sol de Vidro e Construção,
Eis que ouço uma batida
Mas não vem do coração

Na terceira janela, da direita para a esquerda,
Batidinhas me chamaram a atenção
Poderia ser um amigo, o vento ou um ladrão
Levantei-me, fui até lá ver tal situação

Até que vejo uma criatura linda
lindinha...
Entre batidinhas no vidro temperado de verão
Vira de lado sua cabecinha, quase que sorrindo
Um passarinho visitou, enfim, minha pobre solidão.

Carolina Desmondier






Esse poema é fruto de algo que verdadeiramente aconteceu comigo hoje (07.04.10), enquanto lia a antologia de Carlos Drummond de Andrade que havia acabado de comprar. Estava sozinha, lendo Drummond, quando escutei batidinhas na janela. Levantei-me para olhar, e a criaturinha ficou lá, virando a cabecinha e batendo com o bico na janela da sala por alguns minutos. Eu nada fiz. Fiquei olhando para o passarinho e, quando ele foi embora, sorri. E escrevi. De tão verdadeiro, peço que perdoem as rimas rimas rimas(não me identifico com muitas rimas). Mas foi o que senti no momento.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Heroi dos Helenos

Já havia postado esse poema ano passado aqui no Desmondier. Mas reli e me deu vontade de postá-lo novamente. Aqui está:

Herói dos Helenos

[imagem do google]
Carolina Morais

Estrelas de vento
Eis-me aqui
Herói do Helenos
Peito aberto
à espera da espada
de prata de outrem

Trago comigo o orgulho
o sentido sublime
A vida que se vai
esvai-se com o tempo

Finco pé na beira do abismo
E sinto o vento na pele descoberta
o que sobra da armadura de ferrugem
é o vento que dá vida à minha estrela
solitária no céu açucarado

Lembro-me do que não vivi
A saudade carcome os últimos momentos comigo mesmo
A lágrima de sal
desce e arde e escorre
levemente
pelas rugas das maçãs
do rosto meu
que aos poucos formam atrito
com meu passado
Eu?
-Já não mais sou completo!

Estrelas de vento
Eis-me aqui
Herói dos Helenos
Fecho-me sozinho, dentro de quartos-de-pedra

Sufocado sinto-me hoje
Combustão de sentimentos
Guardados por recursos finitos
engavetados no sol de meio-dia

Sou eterno
Ontem
Estou guardado no vão de estrelas
de brisa
de mar
de maresia nebulosa
de ar impuro

Traga-me à cena da vida
Mostre-me o eterno
o vão deste abismo que hoje abriga
o ser selvagem
A saudade denuncia o pesar de minha fraqueza

Ponto fraco é coração
bate sem forças, sem esperanças
Não vê futuro no breu do meu abismo colorido
coloridinho
pelo poeta de armadura

Vejo hoje apenas o brilho discreto
que emana de minhas estrelas de vento
Estive aqui
Esqueça
Devaneios de um herói
Herói dos Helenos.

sábado, 3 de abril de 2010

Desmondier

Vira e volta me perguntam
"O que é Desmondier?"
Eu respondo:
É o absurdo, o encanto
É a luz na noite
É o breu do dia
Sou eu envelhecida
É a Carol de outro dia
Desmondier é o ser
que escolhi para mim
É minha identidade poética
É o meu mundo, enfim,
Desmondier é uma casinha
onde tudo que nela habita
sai de dentro de mim.
Carolina Morais
"Desmondier ou não Desmondier, eis a questão."

Muitos me perguntam e me perguntaram de onde veio esse  "Desmondier". Há um tempo, quando completei meus 15 ou 16 anos, descobri a paixão pela poesia. Desde pequenina sempre gostei muito de Literatura e de Artes ... De tanto ler, eu descobri o gosto e o prazer da escrita. Comecei lendo grandes clássicos brasileiros em prosa, romances...Depois me encantei por crônicas...e, acabei criando um vínculo fortíssimo com o lirismo. Daí, nasceu um amor imenso pela Poesia! 


Um dia, sabe-se lá como, veio em minha cabeça o nome "Desmondier", e fui procurar em vários sites de busca se encontrava algo sobre esse nome. Pois bem, não encontrei! Na verdade, eu ME encontrei! E, assim, adotei esse nome como meu pseudônimo na arte da escrita. No início, dei-me a alcunha de Carolina Desmondier. Hoje, o blog leva o sobrenome que carrego comigo há 5 anos. Não o uso mais como pseudônimo...vi que o Morais, registrado em meus documentos, confunde-se e se confundirá eternamente com o Desmondier, registrado em minha alma.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Canhões de Luz



Acordou de madrugada                               
Afastou os móveis de mansinho
Foi andando devagarinho
Sorriu na janela fria

Girou, girou, girou
Voava pelo quarto escuro
E a lua contava o tempo
E as estrelas eram canhões de luz

Os grilos proviam a música
Juntamente com uma caixinha aberta

E abertos eram seus sonhos
E o dia ninou a menina
que dançou  sozinha
guiada pela imensidão da noite 


 Carolina Morais


                                                                                                                                        

[imagem do google]

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Passarim

Gosto muito de Bossa Nova. Fato. Tom Jobim com suas canções, que são verdadeiras obras poéticas, fazem e sempre fizeram-me refletir sobre a vida, sobre o que fazemos dela...Outro dia estive pensando sobre a liberdade, sobre o destino que nos prende ou não a essa liberdade.

Antonio Carlos Jobim compôs uma música chamada "Passarim". Essa música fala sobre a efemeridade da vida. Fala como tudo na nossa vida passa. Um dia, tudo precisa acabar para que novos ciclos se iniciem, e para que esses mesmos ciclos uma dia, acabem para que novos surjam. E assim levamos nossa vida, o vento leva amores, oportunidades, pensamentos...A chuva apaga alguns fogos que são acesos sobre antigas cinzas em nossa existência. No final, todos(?) seremos felizes(ou satisfetitos?), e já me disseram que se você ainda não é feliz, é porque esse final ainda não chegou(clichê, I know). Tom Jobim. na canção questiona o porquê essa efemeridade, questiona: por que tudo nessa vida passa tão depressa? Por que o "passarim" voa e não pousa um pouquinho? Por que o vento leva o "meu amor"? Por que o dia envelheceu? Por que a luz da manhã foi queimada pelo dia?
O "Passarim" a meu ver, é o que passa...passageiro...passa despercebido, de fininho.
São essas e outras perguntas que tocam nossas vidas. São elas que dão movimento a quem nós somos ou desejamos ser. E o sentido da vida se encaixa na busca por respostas para cada uma das perguntas que nos fazemos no decorrer da caminhada.

Eu sei que muitas vezes não temos tempo para escutarmos músicas na internet. Mas, eu peço que vejam esse vídeo para escutarem essa música, pelo menos uma vez. Ela é linda e muda nosso dia. Eu não consigo escutá-la apenas uma vez.

Passarim

Tom Jobim

Composição: Antonio Carlos Jobim / Paulo Jobim                                     




[Capa do CD Passarim, 1999]

Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro partiu mas não pegou
Passarinho, me conta, então me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Me diz o que eu faço da paixão?
Que me devora o coração..
Que me devora o coração..
Que me maltrata o coração..
Que me maltrata o coração..
E o mato que é bom, o fogo queimou
Cadê o fogo? A água apagou
E cadê a água? O boi bebeu
Cadê o amor? O gato comeu
E a cinza se espalhou
E a chuva carregou
Cadê meu amor que o vento levou?
(Passarim quis pousar, não deu, voou)                                            
Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro feriu mas não matou
Passarinho, me conta, então me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Cadê meu amor, minha canção?
Que me alegrava o coração..
Que me alegrava o coração..
Que iluminava o coração..
Que iluminava a escuridão..
Cadê meu caminho? A água levou
Cadê meu rastro? A chuva apagou
E a minha casa? O rio carregou
E o meu amor me abandonou
Voou, voou, voou
Voou, voou, voou
E passou o tempo e o vento levou
Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro feriu mas não matou
Passarinho, me conta então, me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Cadê meu amor, minha canção?
Que me alegrava o coração..
Que me alegrava o coração..
Que iluminava o coração..
Que iluminava a escuridão..
E a luz da manhã? O dia queimou
Cadê o dia? Envelheceu
E a tarde caiu e o sol morreu
E de repente escureceu
E a lua, então, brilhou
Depois sumiu no breu
E ficou tão frio que amanheceu
(Passarim quis pousar, não deu, voou)
Passarim quis pousar não deu
Voou, voou, voou, voou, voou



O vídeo abaixo é um fragmento do  último programa da série "A Música Segundo Tom Jobim", dirigida por Nelson Pereira dos Santos para a TV Manchete em 1984, o maestro mostrou uma canção àquela altura ainda inacabada, "Passarim".  Achei esse vídeo bacana por que mostra o mestre apresentando sua obra inacabada. Depois, como podemos observar na última versão, a que viria a ser a definitiva da canção, ele mudou a ordem de alguns versos, dando ainda mais sonoridade à canção. Linda, Linda, Linda!






Beijinho, vou voar! ;*

 
[imagem do google]