segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Tua

PASCIN, Jules. Sleeping Woman.
Debaixo dos lençóis amassados ouço um ruído que vem do teu coração. Teu peito exala perfumes humanos e eu acordo com a leve brisa que sai de tua boca entreaberta. Repouso a mão em teu peito dançante e peso quilos em teu corpo cansado do prazer da noite. Te faço colchão, travesseiro, almofada. Afago teus braços cansados e beijo tua face macia. Fixo o olhar em tuas pálpebras cemicerradas. Sou Morfeu e meu pai Hipnos deixa-me penetrar em teus sonhos mais profundos. Zelo teu sono estando submersa em cada cena doida narrada em tua cabeça agora vazia. Descanso no véu no tempo sem sol. A juventude da manhã embriaga-me de ar e de um sol que apresenta preguiça em sair. Chove uma chuva que sorri para as flores encharcadas em pudor e mel. Teus ouvidos recebem uma oneira canção de amor dos meus lábios ressecados. Adormeço antes que nasça o dia e tuas pálpebras cansadas abrem-se como feixes de luz que não mais consigo ver. Durmo ao som da manhã e tu acordas embalado pelo silêncio de meu sono cansado.

Carolina Morais

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