segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Águas turvas

The Death of Cleopatra by Reginald Arthur, 1892
Acabei com a vontade de buscar o que me difere dessa totalidade que me parece a mesma.
Busquei um caminho novo, acabei caindo em um poço de águas turvas.
Encontrei um arcabouço de infinitas ideias, mas não soube colocá-las no papel.
Ninguém as leriam.
As ideias moraram na cabeça da  poeta infante em busca de uma felicidade idealizada.
O ópio despertou o amor. O sonho desertou o conto e abriu seus olhos, mas não conseguiu enxergar o dia claro.

Carolina Morais

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sobre as primeiras horas do dia

     As primeiras horas da manhã são, definitivamente as mais gostosas.
É justamente entre as 4 horas da madrugada e as 6 horas da matina que sinto a melhor acomodação em minha cama. É quando meu lençol já se encontra moldado à minha posição tão variante da longa noite. É quando sinto um friozinho por fora, e um quase morno por dentro. 
Joan Miró; Gift of Mary and Leigh Block, 1988
     4h30, acordo com a bexiga cheia. Levanto e vou em direção ao banheiro. Ainda com um olho fechado e o outro semicerrado. Volto para a cama meio que sem sono, meio que com sono todo...A partir daí nasce a consciência de que vivencio aquela experiência mágica debaixo das cobertas.
     5h30, acordo novamente. Dou uma olhadela para minha janela. Vejo o céu perfeito e sua mistura inebriante de cores. O céu é rosa, laranja, amarelo e azul. Um degradé sem igual, um presente divino.É nessa hora que passarinhos cantam sua beleza por suas vozes invejáveis e suas asas contrastando com o céu multicor.
     6h30, meu despertador toca. Eu acordo e o desligo. E deito mais cinco minutos que me fazem sentir um repouso equivalente a uma hora. Abro os olhos, mas não me movo. É bom mover apenas os olhos, é como se eu esticasse tudo dentro das bolas de vidro que ficaram tanto tempo alheias à realidade a seu redor.
     7h, já devo estar pronta para sair. Não existe mais magia nem conforto. O sol aparece e queima nossos corpos.Os raios agressivos invadem minha janela e iluminam meu quarto. Nessa hora, fecho a cortina e parto para o meu dia. Minha alcova, agora, descansará de mim.

Carolina Morais

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Sobre o perdão efetivo

Perdoar e esquecer. Perdoar é relativamente fácil. Comparado ao ato heróico de abrir uma lata de leite condensado com os dentes, perdoar é uma tarefa fácil que não requer tanto de nós mesmos.
Mas, o que é perdoar? Será que perdoar é apenas organizar umas poucas palavras e pronunciá-las diante à pessoa que te magoou ferozmente? O que seria perdoar senão falar para o outro que está tudo bem?
Daniel F. Gerhartz. Forgiveness.
(A pintura retrata Maria Madalena aos pés de Jesus)
Perdoar, muitas vezes, parece um ato que favorece apenas o pecador. O mesmo tira uma bigorna enferrujada das costas ao saber que o outro, a quem fez mal, já não se importa mais com as mágoas e chateações. As palavras proferidas, pesadas e ofensivas. Tudo pode ser apagado por um " eu te perdôo" ?
Eu digo que não. Perdoar não é dizer que perdoa. Estar perdoado não significa escutar que está perdoado. Isso não faz com que sintamos menos culpa ou o que fizemos ou o que fizeram conosco tenha simplesmente evaporado nas linhas tortas do tempo.

Um sentimento ruim pode ficar dentro de nós por muito tempo. Sempre existirão pequenos cacos cortantes que surgirão em nosso coração, fazendo aquela ferida sangrar, e abrir. Então, o perdão é assim, um remédio. Temos que cuidar da ferida diariamente, lavá-la, passar o medicamento adequado e cuidar para que não a machuquemos novamente, no mesmo lugar.

Quando crianças caímos e machucamos o joelho. Praticamente todos nós já caímos . Quase todos nós já tivemos aquela ferida no joelho. Chato e fato. Toda vez que andamos, sentamos e nos mexemos lembramos da ferida. Ao sentir a ferida, lembramos da queda. Nos arrependemos. O perdão tem que agir em nossas feridas como um curativo para feridinhas no joelho. Saiba que você não irá esquecer do que aconteceu de uma hora para a outra. Saiba que você sempre vai sentir aquela ferida, que poderá machucá-la novamente e vai ficar pensando consigo mesmo " ah, se eu fosse um pouquinho mais cuidadoso, não teria caído e ferido meu joelho". Sim, pensar como seria não adianta. Já aconteceu. Enquanto você pensa em uma forma de ter desviado daquela pedra sem perder o controle da sua bicicleta, sua feridinha fica lá, desprovida de cuidados. Então, ao menos uma vez, sonhe menos e olhe para dentro do seu coração. Perdoe verdadeiramente.

E, não se iluda, muitas pessoas te perdoam e te perdoaram mesmo sem ter dito isso a você. O perdão está dentro do que chamamos coração e não de nossas mentes, muitas vezes infectas.
Perdoe, assim, serás perdoado. Mas, só perdoe se realmente quiser curar a tua ferida.

Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós. Colossenses 3.13

Carolina Morais

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Existencialismo barato

Imagem por  zimpenfish

Saí tarde de casa, embebida em preguiça, luxúria e gula.
Fui ao mercado.
O existencialismo estava lá, barato, baratinho.
Deve ter sido a crise ocorrida nos EUA, ou até mesmo a crise existencial de algum parente meu.
Já nem sei quem sou. E isso não importa.
Meu salário é pouco e posso comprar mais de um. E existir várias vezes.
Todos os dias.

Carolina Morais