terça-feira, 28 de julho de 2020

Cafeína

Foto de Lina Kivaka no Pexels
Eu não tomo café, é o café quem me toma.
Nas primeiras horas da manhã, sinto meu corpo arfar. Como posso acordar tão cansada de um sono que nem sei mesmo se eu dormi? Tantas noites em que penso no vazio que me toma a existência ao cair da noite, e, ao levantar do dia toma-me o café.
A cafeína é intransitiva, quase visceral. Invade-me os sentidos, dilata-me os poros. Infla-me os sonhos. Por um momento desperto. Ou penso estar desperta. O sono pesa no peito cansado do caminhar.
Eu não tomo café, é o café quem me toma. E, com ele, pilhas de xícaras com fundos manchados, na pia da cozinha, entregam a solidão de se querer estar só.
O calor que emana do vapor fácil do meu copo trincado aquece meus lábios que guardam silêncios antigos. 
O café atabafa a tristeza humana.

Carolina Morais

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