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Fabian Perez; Wondering at las Brujas |
Ele sentiu uns poucos pingos molharem-lhe os cabelos perfeitamente despenteados. Ela andara até a porta e, como quem susurra um segredo secular, convidara-o para entrar e tomar uma dose de alguma coisa que lhe esquentasse o corpo já encharcado com á agua da chuva que engrossara em segundos poucos.
-Não sei se posso- disse o homem sem rumo. -Não sabe se pode, ou não sabe se quer?- retrucou a mulher com um olhar tão profundo como uma bola de cristal num quarto escuro. -Vamos, venha. Eu lhe ofereço um gole de meu vinho e alguns minutos de um tempo que eu não tenho.
O homem então se levantou e foi andando em direção à porta do bar. Entrou e olhou fixamente para os homens..alguns sérios, outros tristes, outros um tanto indecifráveis. Quis sair, quis ir para casa e assistir alguma coisa repetida na televisão. Se é repetida não precisa prestar tanta atenção e tentar entender. Sorriu para a mulher de preto. A mulher não sorriu de volta, não ofereceu-lhe sequer o brilho de seus dentes pequenos. A mulher sentou e fingiu que não conhecia o homem perdido. O homem sentiu tanta raiva e pensou que tudo aquilo estava errado. Que Ele não era aquilo que estava vivendo naquela noite. Sentou na mesa do bar, ao lado da mulher. Levantou, pegou o chapéu e fez um movimento para ir embora. A mulher nada fez. Ele esperou uma reação. Ele queria ser amado, nem que fosse de mentirinha. A mulher virou de costas.O homem, enfurecido, decidiu ficar. Pediu uma taça de
Veuve Clicquot para ele e meia taça de
Chateau Mouton Rothschild para ela.
-Troque!
Chateau de Beaucastel. Quero a taça inteira. Obrigada.- O homem olhou perplexo. Havia um tom de fúria em seus olhos, mas havia também a admiração...e o desejo.
-Você sabe o que quer! Exclamou o homem, sem controlar sua expressão de espanto e desejo. A mulher, sem olhar para o homem retrucou: - Eu não sei o que eu quero, o que eu quero é que sabe de mim. Assim vivo, ou finjo viver...todas as noites.
O homem se calou por um instante. Engoliu o espumante como se fosse água. Desejou não ter entrado, desejou não ter conhecido aquela mulher. Desejou ser outra pessoa como essas que andam de dia e carregam sonhos nos bolsos fartos...
Carolina Morais