sábado, 16 de outubro de 2010

Chanel

Fabian Perez; Rojo Sillon.
Acordou e viu que algo não estava de acordo consigo mesma. Tomou um banho de gata, comeu três bolachas encharcadas de mel e alho. O gosto lhe fazia bem. Colocou um vestido qualquer e um suéter que enfeitara o guarda-roupa desde sua mocidade. Ainda lhe cabia bem. Tomou uma xícara de café, frio e velho. Comeu duas uvas amargas e escovou os dentes com a força e a destreza de quem engraxa os sapatos, ou o chefe em uma repartição pública monótona. Calçou um sapato preto. Alto. Pegou a bolsa de fita e foi ao salão de beleza mais próximo de casa. Pediu um corte, e um copo com gelo. Tirou uma garrafinha de dentro da bolsa de fita e despejou todo o líquido amargo dentro do copo. -Corte. Essa não sou eu. A cabeleireira cortou-lhe mecha por mecha. Queria mesmo que lhe cortasse algo por dentro, ou que lhe arrancasse o coração inútil. -Chanel! Pagou-lhe o montante e voltou para casa. Olhou-se no espelho. Sentiu falta dos cabelos espetando-lhe as costas antes nuas. Sentiu a brisa em seu pescoço. Sentou na poltrona da sala e, de súbito, percebeu que ainda era a mesma mulher e que, agora, o vento enforcava-lhe...lentamente.

Carolina Morais

11 comentários:

Anônimo disse...

Uau, poeticamente estridente, perfeitamente cativante.

Amei!

Michele Pupo disse...

Carol

Vivemos tentando mudar por fora, o que não resolvemos por dentro.

Texto poeticamente belo.

Beijo e um domingo abençoado!

Anônimo disse...

Olá minha linda.
Se me perdeu já me encontrou rs.
Lindo e gostoso te ler.
Ñ sei ao certo, mas seus escritos são pretenciosamente um encontro efêmero com os dias em que nossos coraçõe se encontram na imortalidade de nossas almas.
Maravilhoso.
Obrigado pelo carinho da sua visita.

Porque morrem as palavras? disse...

Pousei sem saber a que ramo me trazia o link.Fiquei lendo. Gostei.
Afinal a vida é um espelho para os outros, nós bem sabemos que no fundo, mudar a nossa alma é difícil.
A vida é curta e raramente vivida na sua essência, neste mundo de aparência.

♪ Sil disse...

Carol, amadaaaaaa!

A gente tenta mudar tantas coisas por fora. Tantas...
Mas esquece o interior, porque é dificil mudar lá dentro.
Ai, se dá a ambiguidade de tantas coisas...sei lá, acho que é isso!

Você continua escrevendo maravilhosamente bem.
Ô menina lindaaa, iluminadaaaaaaa!

Amooooooooo tanto você!!!

Um abraço gigante, gigante!!

s a u l o t a v e i r a disse...

Nossa! É preciso pensar bastante, entender o que há, depois agir. Mas vale um impulso vez ou outra.

Beijos.

paulinho disse...

Gosto muito de ler e acho que tenho uma sola de pé que vem engrossando nessa caminhada. Sobre o que você escreve acho meio cru. E gosto muito. Às vezes muitão.

paulinho disse...

Me dá alguma coisa para ilustrar? Nada muito difícil, tá?

Carol Morais disse...

Lara, obrigada. Ouvir isso de você é uma honra! ;*

Michele: Obrigada Michele. Parece que somos incompletos. E isso faz da gente tão humanos.

Pérola: AInda bem que te reencontrei, viu?! Estou feliz. Algo de mim está de volta!

Jortas, você será sepre bem-vindo. Apareça quantas vezes quiser! O espaço é também teu!

Sil: você é muito sensível e capta sempre a alma de tudo.

Saulo: Impulsos sempre são válidos...sempre!

Carol Morais disse...

Paulinho, meu querido. Adorei tua visita. Obrigada pelas palavras, gosto da tua sinceridade. Poxa, tentei clicar ni teu perfil, mas não apareceu nada! Como te encontro?
Beijos!

Machado de Carlos disse...

Um cabelo longo e bem encaracolado, nas pontas faz uma beleza ímpar na mulher, principalmente nua. É uma visão fantástica que tenho de uma mulher.
Parabéns por mais um belo texto!