domingo, 24 de outubro de 2010

A Mulher e o Homem [Parte 3- Final]

Fabian Perez, Proposal.
A mulher sorriu. Aos olhos do homem aquilo parecia um sorriso. A mulher tinha um ar de indiferença tão grande que inundava todo o bar com um vazio sem-fim. Era oca e seca. Ele estava molhado e ao mesmo tempo quente. O espumante parecera ácool puro. Não mais afirmava estar sóbrio e nem sabia ao certo se aquilo seria estar ébrio. A mulher não sorriu, ela riu. Viu o homem e riu. E chorou ao mesmo tempo. Estava confusa. e ele perdido. Os dois trocaram um olhar tão profundo como um buraco negro em um céu açucarado em uma praia deserta. Ela queria fechar seus olhos que ardiam e coçavam. Ele olhava porque queria. Ele gostava daquele olhar e, em segundos passados ligeiros, o homem tentava ler a mulher por completo, mas só conseguia visualizar um grande muro branco. Cansado, desistiu. Baixou o olhar e pensou em desistir. Quis ir embora pela segunda vez. A mulher o segurou pelo braço. As unhas grandes e quadradas, pintadas em rubro cintilante fincaram-se no braço branco do moço por todo alvo. Seu coração disparou. Sentiu um frio na barriga que parecia-lhe esperança, ou enjoo. Pensou que talvez a falta de comida por muitas horas lhe fizera mal ao combinar o estômago vazio com o espumante. Voltou ao bar em pensamentos e viu a cena: uma mulher bela e misteriosa segurando-lhe o braço, com a boca aberta em um suspiro e o os olhos semicerrados de desejo e posse. Aquele homem parecia lhe pertencer e ele pareceria gostar daquilo. Sentou. A mulher deixou as unhas lá, guardadas na carne fraca do homem. O homem, por sua vez desejou mais. Um beijo, talvez. Aproximou-se da mulher, e, chegando perto de seu pescoço sentiu novamente um embrulho no estômago. O perfume era forte demais e a mancha verde fazia-se aparecer para ele, que sentiu um nojo e uma vontade louca de quebrar o colar de pérolas barato. Desistiu de beijar-lhe a nuca. Encontrou mechas de cabelo por toda parte. A mulher prendera o cabelo de uma forma muito peculiar, de uma forma muito de qualquer jeito. E ele gostava daquilo. Ela não evitou um beijo. Subitamente ofereceu-lhe os lábios embebidos em batom vermelho. Parecia um pedaço de unha, ou um pedaço de pecado recortado de uma capa de revista adulta. Ele a beijou. Um beijo molhado e ardente. Ela mostrou-se tão passiva, oferecendo-lhe a língua e a boca aberta. Não o beijou, mas foi beijada. Não fechou os olhos e não morreu de amor. A mulher, não sentia nada que a acendesse ou que esquentasse o coração. Afastou a boca do homem pálido, agora rubro de paixão e voltou a beber seu vinho; fosse para apagar o gosto do homem da memória, fosse para tentar sentir seu gosto diluído em um pouquinho de alucinação.

Carolina Desmondier

4 comentários:

Anônimo disse...

Maravilhoso amada.
Gosto muito de te ler,só ñ venho com mais frequencia pq o tempo é curto por demais.
Amei o texto,sedução misturado com mistério,rejeição, mexe com os instintos de quem o lê.
Muito bom. Amei.
Beijokas minha linda.

Michele Pupo disse...

Carol

O texto todo é pleno de um mistério literário, palavras que perfuram nossas entranhas. Mas a última frase é sobre todas as outras rainha. Pura perfeição!


"Afastou a boca do homem pálido, agora rubro de paixão e voltou a beber seu vinho; fosse para apagar o gosto do homem da memória, fosse para tentar sentir seu gosto diluído em um pouquinho de alucinação."

Anônimo disse...

Ai, vc termina sempre tão bem, faz o mais difícil parecer fácil.

Beijo!

Machado de Carlos disse...

Olá! Como vai?

Estou gostando do Romance. Muito bem escritos e com suspenses que nos deixam ansiosos.
Fico aqui aguardando o próximo capítulo.
Realmente o que eu levo apenas quatorze versos para contar um romance, e você com esta riqueza de palavras. Em seu caso não seria como o meu (Um “curta”), mas um “longa” de muito bom gosto.
Um grande beijo!